segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Oração ao Deus desconhecido de Nietzsche

Eu estava ouvindo uma palestra proferida por Leonardo Boff no ano 2000 chamada ''Tempo de transcendência- O ser humano ocmo um projeto infinito''. Nesta palestra que encontrei numa livraria sendo vendida em CD junto á ela toda transcrita e com um pouco mais de extensão do próprio Boff indo um pouco mais longe no assunto. Leonardo Boff tem uma trajetória muito conhecida ( veja mais sobre sua vida aqui http://www.leonardoboff.com/site/lboff.htm) e uma história de vida impressionante. Grande intelectual e sábio, que infelizmente você não vai ver dando palestra no lugar da novela das 8 nem no lugar do Big Brother. Considero um dos grandes brasileiros que são desconhecidos pela grande massa. Nesta palestra ele fala sobre o ser humano como projeto infinito, pois o ser humano é um ser de abertura, nunca estando pronto ou acabado. Além disso, Boff passa a discorrer sobre transcendência e imanência do ser humano e identificando esta dualidade como fenômeno proveniente do patriarcalismo, pois, a mulher seria um ser que engloba mais as coisas, que pensa mais com o corpo, diferente dos homens que teriam a inclinação á divisão entre mente e corpo. Enfim, estas foram breves explições de minha interpretação sobre alguns pontos capitais do pensamento de Boff exposto nesta palestra. Mas o motivo deste post é outro. Ao final da palestra, Boff traduz do alemão, uma oração que Nietzzche fizera. Nietzsche é conhecido como o homem que pregara a morte de Deus. Entendi que, segundo Boff, Nietzsche prenunciara a morte do Deus fabricado pelo homem, que reside em seu pensamento, sendo produção exclusivamente intelectual humana. Um Deus que segundo Boff

''...ele (Nietzsche) fala do Deus que tem que morrer mesmo, porque é o Deus das nossas cabeças, o Deus inventado, o Deus da metafísica, o Deus que não é vivo.''' (obra citada, editoras Sextante, pág 84).

Deus não deveria ser um ser que vêm de cima pra baixo, chega a afirmar Boff, mas sim o ser que vem de dentro. Nietzsche destrói o Deus cristão que é cercado de dogmas, regras etc e faz uma belissima Oração traduzida pelo próprio Boff:

''Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para a frente mais uma vez, elevo, só, minhas mãos a TI na direção de quem fujo. A Ti, das profundezas de meu coração,, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, Tua voz me pudesse chamar.Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras:

''Ao Deus desconhecido''.


Sim, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegios. Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo. Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-Lo. Eu quero Te conhecer, desconhecido. Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida. Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero Te conhecer, quer o servir só a Ti.''

Friedrich Nietzsche


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São palavras fortes as pronunciadas por Nietzsche nesta oração. Interpreto como um gesto de abertura ao desconhecido. Talvez Nietzsche estivesse realmente procurando ''Deus desconhecido'' porque não seja cognoscivel aos seres humanos, a não ser pela contemplação, pelo silêncio, pela veneração.Também não nos esqueçamos do conteúdo inconsciente, do encontro com seu ser verdadeiro. Mas prefiro ve-la como uma oração. Uma belissima oração, cheia de poesia e humanidade. Ao falar dele mesmo nessa busca ao Deus desconhecido, quantos de nós não se identificam com essa oração derivada desta busca de Nietzsche?

Qual sua interpretação?

Um comentário:

  1. Eu também assisti esta palestra e fiquei surpresa com esta oração de Nietzsche que antes não conhecia. Acredito que tenha sido sim uma oração, pois o homem por mais racional que seja nunca poderá negar sua origem (criação de Deus para Sua adoração). A razão explica a vida até certo ponto, pq a continuação dessa explicação será completada pela fé na pessoa que Nietzsche chama de "Deus desconhecido".
    Este texto de Nietzsche está publicado em qual livro?
    obrigada!

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